Das 106 mortes registradas entre 21 e
27 de agosto de 2017 no estado, 39 tiveram o inquérito concluído. Houve apenas
dois julgamentos, que culminaram em condenações.
Por
Marina Meireles e Pedro Alves, G1 PE

Avó de adolescente grávida morta em Paulista mostra roupas compradas
para filho da menor — Foto: Marina Meireles/G1
Dois anos depois
das mortes violentas contabilizadas pelo Monitor da Violência, entre 21 e 27 de agosto de
2017, a Polícia Civil solucionou menos da metade dos casos no estado. Ao todo,
62% das ocorrências ainda não saíram da instância de investigação. Em
Pernambuco, 39 inquéritos foram concluídos, mas 66 seguem em aberto, dos 106 casos
registrados.
O andamento de um
dos casos não foi informado ao Monitor da Violência, uma parceria do G1 com o Núcleo
de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP) e com o Fórum
Brasileiro de Segurança Pública. O projeto contabiliza e acompanha casos de
homicídio, latrocínio, feminicídio, morte por intervenção policial e suicídio.
Os números refletem
a realidade da família de Shayene Rodrigues, de 14 anos,
morta a tiros em 26 de agosto de 2017. Ela estava grávida de 7 meses e o filho
também não resistiu. Na mesma ocasião, também foi morto Carlos Vinícius de
Oliveira Castro, de 21 anos, companheiro dela e pai da criança que ela gestava.
Depois de mais de
dois anos do crime, cometido na Rua Noventa e Oito, em Maranguape II, em Paulista, no
Grande Recife, as respostas sobre o assassinato também parecem se distanciar
dos parentes da adolescente e dão força à inconformidade já provocada pela
perda da jovem.
"A gente não tem nenhuma notícia de nada. Nenhum investigador, delegado, comissário, ninguém da polícia veio aqui para falar da investigação. Quando chega lá, dizem que está em investigação. Quando vê isso, na verdade, está arquivado. É melhor deixar na mão de Deus, que ele resolve", conta um dos parentes de Shayene, que prefere não se identificar.
Tia de Shayene, a
bombeira Simoní França relembra que a jovem havia discutido com o companheiro e
estava na casa da mãe, no Cabo de Santo Agostinho,
também no Grande Recife, mas voltou a Paulista na noite do crime para entregar
uma cesta básica ao pai do bebê que carregava.
"Ela recebeu
essa cesta na igreja e veio para entregar a ele. Quando chegou, ele pediu para
ela dormir lá, com ele. Ela ficou, e pouco depois a gente soube da notícia. Ela
veio para a morte", afirma a bombeira.
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Convicta de que o
tráfico de drogas motivou o crime, a avó de Shayene, Maria José Santana, afirma
ter tentado livrar a neta desse caminho e lamenta não ter tido sucesso "A
gente dava muito conselho a ela. Dizia 'você é uma menina nova, bonita'.
Ofereci muitas coisas a ela, mas ela dizia que queria viver com o pai do filho
dela", conta.
No caso da morte de
Shayene e Carlos Vinícius, a polícia informou ao G1, em 2018, que
havia identificado os autores do crime, mas que ninguém havia sido preso. Neste
ano, a corporação voltou atrás e disse que ninguém foi apontado como autor do
crime. A Polícia Civil disse, ainda, que o caso teve “acerto de contas” como
motivação.
Nas mãos da avó da
vítima, as roupas do enxoval comprado durante a gravidez de Shayene lembram à
família a vida que os dois, mãe e bebê, não podem mais ter. Maria José Santana
lamenta a perda da neta lembrando que o próprio filho, pai da adolescente
assassinada, também teve a vida interrompida por um assassinato, anos antes.
"A saudade é
muita. Perdi o pai dela e ela. Faz uns 10 anos ou mais que o mataram. É uma dor
que eu não quero para mãe nenhuma", diz a avó da adolescente.
Os dados
A falta de resposta
aos assassinatos ocorridos no período registrado pelo Monitor da Violência se
repete na identificação dos autores dos crimes. Ao todo, 58 casos seguem sem
ter autores identificados, enquanto 43 deles tiveram a autoria encontrada. O número
de mortes sem autoria representa mais da metade do total, chegando a 54,7%.
Em dois casos, a
identificação dos criminosos não foi informada e outras duas mortes são
tratadas como suicídios e, por isso, a própria vítima é a autora. Confira o
gráfico abaixo sobre as autorias dos crimes.
Em 2018, nenhum dos autores
identificados tinha sido condenado pelos crimes. No balanço
feito em 2019, houve duas condenações. Uma delas é referente à morte de Cleiton
da Silva Alves, de 23 anos, morto em Escada, no dia
27 de agosto de 2017.
O autor do crime
foi identificado como um homem de 26 anos, que confessou o assassinato. Em
julgamento realizado no dia 23 de março de 2019, ele foi condenado a 17 anos de
prisão.
O outro caso em que
houve julgamento foi o do agricultor Cleonildo Castelo Branco da Rocha, morto pela própria filha em Buíque, no
Agreste do estado. Em maio deste ano, a acusada de cometer o crime passou por
julgamento e foi condenada a 18 anos de prisão por homicídio qualificado. Ela
foi presa na Colônia Penal Feminina de Buíque.
Prisões
Os números são
ainda mais discrepantes quando se trata da quantidade de prisões realizadas
pelas forças de segurança. Dos 106 casos, o G1 foi informado
de que em 19 ocorrências algum suspeito foi preso. Esse número, de 81 casos sem
prisões, representa 76,4% do total. Em três casos, não houve informações sobre
detenções e outros três se tratam de suicídios.
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